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04/05 Ainda mais estratégicos

Edição 219, Maio/Junho           

 

 

A preocupação com a saúde e com a qualidade de vida dos colaboradores é uma aposta cada vez maior das empresas para aprimorar o clima organizacional, gerar motivação e ampliar a sinergia entre os funcionários. E, como consequência, aumentar a produtividade e fomentar o negócio.

 

No entanto, a baixa integração entre o planejamento estratégico e as iniciativas práticas gera ineficiência na gestão dos programas de saúde, qualidade de vida e bem-estar das empresas voltados aos trabalhadores. Pelo menos é o que revela o estudo “1º Benchmarking em Saúde & Bem-Estar do Brasil”, feito pela consultoria Mercer Marsh.

 

O estudo, que analisou os programas de saúde e bem-estar de 264,8 mil trabalhadores de 58 grandes empresas, mostra que somente 36% das companhias analisadas fazem a integração entre as suas diversas iniciativas de saúde. “A integração entre os programas oferecidos, embora seja importante, ocorre efetivamente em um pequeno universo (36%) das organizações. Se a empresa necessita de um mapeamento preciso da população de trabalhadores, ela precisa também de uma integração maior e mais eficiente”, afirma Helder Valério, líder de gestão de saúde da Mercer Marsh Benefícios.

 

Algumas razões para tal cenário se impõem. Ao analisar o apoio da liderança, a cultura e o ambiente de saúde dentro da empresa, por exemplo, o estudo mostra que 41% das participantes contam com o apoio dos líderes na estratégia de disseminar o valor e a importância da saúde para os trabalhadores. Já 64% têm a saúde e bem-estar nos valores da empresa, e para 59% a visão e a missão da organização contemplam uma cultura de ambiente de trabalho saudável.

 

Segundo a pesquisa, também é baixa a implantação de ações ancoradas em um planejamento estratégico. Apenas 31% possuem plano formalizado e de longo prazo para os programas de saúde.

 

De acordo com a apuração conduzida pela equipe da revista Profissional e Negócios para esta matéria, esse descompasso entre as estratégias e os programas voltados para a saúde do capital humano se estende também para os pacotes de benefícios relacionados ao mercado de alimentação, o que gera inúmeros desafios (e oportunidades, por que não dizer) para as empresas que oferecem soluções em benefícios corporativos.

 

Saúde

 

De acordo com Manoel Peres, diretor-geral da Bradesco Saúde e da Mediservice, “emprego e renda são determinantes para o mercado de saúde suplementar, pois a economia do país sempre orienta o segmento”. Ele explica: “É um sistema pró-cíclico, que cresce ou decresce conforme esses indicadores. Mas o financiamento sustentável da assistência à saúde é um dos principais fatores do momento. Os custos são crescentes em razão da incorporação acrítica de tecnologias, do aumento indiscriminado da demanda por tratamentos sem adequada orientação médica e da ausência de protocolos elaborados através da medicina baseada em evidências”.

 

De maneira geral, as transições etária, demográfica, epidemiológica e tecnológica já impactam negativamente a sustentabilidade dos sistemas de saúde no Brasil e no mundo. O consumidor, no entanto, tem sua parcela de responsabilidade nesse processo (mutualismo): para evitar onerar ainda mais o sistema, todos devem atentar-se à utilização dos serviços de modo responsável e ético para não aumentar os custos na medida de sua utilização. “Mas o setor está atento a essas questões e tem se mobilizado participando ativamente do debate junto à ANS e ao mercado propondo o aperfeiçoamento da regulação e de práticas que incentivem a sustentabilidade do sistema via a produção assistencial de qualidade e o combate ao desperdício”, afirma Peres.

 

Marco Antonio Ferreira, diretor corporativo da Amil, chama a atenção para a chamada “gestão de saúde” pode parte das operadoras. “Desde 2015, a Amil conta com uma diretoria dedicada exclusivamente a esse tema e reestruturou todos os programas de promoção de saúde e de prevenção de doenças, acompanhando mais de perto os resultados médicos dos beneficiários, que passam a ter melhor qualidade de vida”, conta o executivo.

 

Inegavelmente, um dos principais desafios no cenário atual é a redução do custo assistencial, valor reajustado com base na sinistralidade e na variação dos custos médicos hospitalares, a chamada inflação médica. Para equilibrar estes custos, o departamento empresarial da Qualicorp afirma que utiliza sua base de dados e poder de negociação, porém, a atuação “ocorre também de forma preventiva e corretiva durante todo o ano, por meio de ações como o redesenho do benefício, implantação de programas de qualidade de vida, gestão de casos crônicos e campanhas de uso consciente do benefício”.

 

Nessa esteira, José Silva dos Santos, diretor administrativo-financeiro da Ameplan, diz que o principal desafio tem sido compatibilizar os altos custos assistenciais e a inflação médica de 19% com um preço que as empresas possam equacionar dentro dos seus orçamentos.

 

Ainda assim, “mudar um benefício como o seguro saúde, por exemplo, somente pensando no fator monetário imediato, pode ter efeito contrário e gerar mais despesas”, diz Valter Hime, diretor da Sompo Saúde Seguros.

 

No que tange às tendências desse segmento, Ferreira, da Amil, cita a busca por mecanismos de gestão e de transparência no controle de custos médicos, como a coparticipação, a atuação baseada na atenção primária e os modelos inovadores de remuneração de prestadores de serviços (como o pagamento por grupos de diagnósticos).

 

O departamento empresarial da Qualicorp corrobora: “Uma das principais tendências do mercado de benefício saúde para os próximos anos é a necessidade de um maior envolvimento do beneficiário como agente redutor de desperdício, utilizando racionalmente o plano de saúde. Esta conscientização é fundamental para garantir a sustentabilidade do modelo atual de benefícios de saúde nos próximos anos”.

 

Roberto Ranieri Sobrinho, diretor financeiro da Plena Saúde, também aposta na transparência absoluta entre todos os envolvidos. “Ainda existe muita nebulosidade nas relações entre os provedores, prestadores e as fontes pagadoras. Isso tende a diminuir bem nos próximos anos, impulsionado pela tecnologia, normativas da ANS e principalmente pela concorrência crescente deste mercado”.

 

Diante de tais tendências, dá para dizer que 2017 pode significar um ano de muitas oportunidades e crescimentos para os fornecedores de benefício saúde. É o caso da Bradesco Saúde: “Hoje, atendemos mais de 4,1 milhões de beneficiários e estamos presentes em mais de 1,4 mil municípios do país. Além disso, a Bradesco Saúde e sua controlada Mediservice contam com rede médica referenciada composta por mais de 107 mil médicos, 1,7 mil hospitais e mais de 10 mil serviços de diagnósticos e análises laboratoriais. Em 2016, as duas empresas apresentaram, em conjunto, faturamento superior a R$ 20,8 bilhões, crescimento de 15,1% em relação ao ano anterior”, diz Manoel Peres, diretor-geral.

 

A Ameplan também projeta crescimento de dois dígitos. “O planejamento é crescer 13% no número de beneficiários e 24% no faturamento”, conta José Silva dos Santos.

 

Já a Plena Saúde, por ser uma operadora regional e focada nas classes C, D e E, aposta em recuperação. “Nossa projeção para 2017 é ter um incremento de 30% em nossa receita, impulsionado tanto por novos clientes como pelo reajuste em produtos que estavam com os preços defasados. Esse crescimento nos colocaria próximo dos 20% em market share da população que possui planos de saúde na região noroeste de São Paulo”, diz o executivo Roberto Ranieri Sobrinho.

 

Benefício Odontológico

 

Na última década, o segmento de benefício odontológico apresentou índices de crescimento muito acima de qualquer outra área ligada à saúde corporativa. Hoje, no entanto, o mercado mostra estabilização e consolidação das empresas. Conforme aponta José Clóvis Tomazzoni de Oliveira, vice-presidente de operações da Uniodonto, o “maior desafio neste período tem sido a manutenção das taxas de crescimento apesar dos altos índices de turnover apresentado em grande parte das empresas parceiras”. Ele afirma: “Acreditamos que a qualidade do atendimento e a estrutura da rede assistencial seja decisivo para que possamos passar por este momento sem muitos sobressaltos”.

 

Não é por acaso que a Uniodonto acredita que o foco na qualidade assistencial seja a principal tendência do segmento para os próximos anos. “Os modelos assistencial e remuneratórios utilizados no Brasil precisam ser revisitados e reavaliados, é necessário o estabelecimento de indicadores de qualidade que possam garantir a melhor assistência pelo menor custo, melhorando a relação entre as necessidades dos beneficiários e as necessidades da rede prestadora”, diz o VP da companhia.

 

De fato, qualidade no serviço prestado segue sendo um grande diferencial. Marcelo H. Guerreiro, executivo de Novos Negócios da Prodent, diz: “A manutenção da qualidade do nosso atendimento junto aos RHs é um desafio enraizado na nossa equipe”, e complementa com algumas projeções: “Levando em consideração que apenas 11% da população brasileira tem acesso ao plano odontológico no Brasil, e, por ser tratar de um benefício com um alto valor agregado e com baixo impacto na folha de pagamento das empresas, ocorrerá um crescimento moderado nos próximos três anos. Em nosso Planejamento de 2017, projetamos 10% de crescimento nas nossas receitas, com um acréscimo de 5% no market share”.

 

José Clóvis Tomazzoni de Oliveira também projeta: este será um ano difícil, mas com oportunidades. “Entendemos que as definições de contratação estão mais ligadas à capacidade de “entrega de melhores serviços do que a menores valores de produtos e desta forma entendemos que o momento é propício para aumentar nossa participação no mercado”.

 

Farmácia

 

O sucesso de um programa de benefício corporativo passa pelo envolvimento do RH nas campanhas de comunicação que devem acompanhar toda e qualquer ação. Sem comunicar a real funcionalidade de determinado benefício, dificilmente os colaboradores vão extrair o máximo de determinada ferramenta.

 

Segundo Luiz Felipe Bay, diretor de vendas corporativas e negócios PBM da Univers, é justamente nesse ponto que reside uma das principais dificuldades das companhias de benefício farmácia atualmente. “Um dos principais desafios tem sido encontrar um tempo disponível na agenda dos gestores de RH para fortalecer a divulgação interna aos seus funcionários. A PBM Univers oferece uma série de vantagens que proporcionam mais facilidade no atendimento e economia aos seus beneficiários, contudo se os gestores de RH não reservarem um tempo para planejar conosco como divulgar o benefício farmácia, a informação simplesmente não chega para aqueles que mais precisam do atendimento”, explica ele.

 

Dessa forma, fica a impressão de que o RH muitas vezes não tem a real dimensão do quão estratégico um benefício como este pode ser. Conforme relata Carolina Jana Abrão, coordenadora de marketing da Funcional Health Management, “a implantação das soluções propiciam a mitigação de gastos excessivos em saúde, como é o caso do benefício medicamento (PBM) e da gestão integrada de saúde (GI)”. Ela complementa: “Esta postura trouxe resultados significativos tanto para a Funcional quanto para nossos clientes e parceiros, que passaram a enxergar o benefício medicamento como um investimento e não como gasto”.

 

Geraldo Flavio Gomes da Silva, executivo da ECX Card, acredita que, “devido a recessão, muitos profissionais de RH têm tido o desafio de cortar custos, reduzir o número de colaboradores e, ao mesmo tempo, manter seus colaboradores motivados e engajados para contribuir para suas respectivas empresas”. Ele diz ainda: “Neste cenário, os benefícios ligados à farmácia podem ser uma boa opção. Acreditamos que este e outros produtos, que melhorem a cesta de benefícios das empresas sem gerar muitos custos, tem bastante potencial de crescimento nos próximos três anos”.

 

Quando o assunto é tendência, a ePharma, cuja meta de crescimento para 2017 é de incremento de 28% sobre o ano anterior, aponta a introdução de planos de medicamentos na modalidade de Pré-Pagamento como algo para prestar atenção. “O modelo permitirá as empresas contratantes absorverem os benefícios da cobertura de medicamentos com custos fixos mensais controlados, permitindo a expansão para o segmento de médias e pequenas empresas”.

 

Bay, da Univers, cita a rapidez no atendimento. “É o que chamo de ‘agilidade segura’, que significa atender rápido, em qualquer lugar, garantindo a segurança do processo e das vantagens do seu benefício farmácia. Toda essa convergência, aliada à capilaridade de lojas, prevalecerá como tendência para os próximos anos”.

 

Tais novidades, além da aguardada retomada da economia brasileira, faz as empresas projetarem um bom cenário para o exercício 2017. “A projeção é superar os anos anteriores, pois estamos no curso de um processo de solidificação da marca Univers, que é a PBM própria e gestora de saúde da Raia Drogasil, e por oferecermos um benefício farmácia completo através de uma plataforma PBM moderna e confiável”, diz o executivo.

 

Geraldo Flavio Gomes da Silva também é otimista: “As projeções de início de ano para 2017 são bem melhores do que as dos últimos dois anos. Temos vários sinais de que a economia está entrando em uma fase de recuperação gradual”.

 

Alimentação

 

André Turquetto, diretor de marketing e produtos da Alelo (foto), acredita que “ao munir o RH com informações e disponibilizar soluções sob medida, conseguimos contribuir para o desenvolvimento de seus negócios”. Esta declaração talvez sintetize o estado atual do segmento de benefício alimentação/refeição, que em certa medida busca se reinventar para seguir oferecendo serviços com o máximo de qualidade, baixo custo e alto potencial estratégico. “Temos total convicção de que a aproximação com os usuários dos nossos cartões é um caminho sem volta. Nos últimos anos, além de trazermos diferenciais para as empresas-clientes e para os estabelecimentos comerciais, temos profissionais empenhados em garantir ainda mais vantagens para quem utiliza os nossos cartões. Por meio de um calendário de ofertas e descontos, além de outros serviços diferenciados, queremos que o trabalhador, que é cliente Alelo, saiba que o seu benefício vale mais aqui”, explica o executivo.

 

De acordo com Rodinei Dias, gerente de produto benefício da ValeCard, o mercado tem mudado muito nos últimos anos e o RH acompanha esse movimento. “Ele está atento e cada vez mais exigente em relação à qualidade dos serviços e agregação de valor ao negócio”. É por isso que a companha tem investido em inovação e novos produtos. “Acreditamos que a oferta de serviços e soluções que aumentem o valor percebido pelo beneficiário e a facilidade para o uso do benefício está no topo das tendências em nosso segmento. Pensamos que, se o colaborador estiver mais satisfeito e motivado, o departamento de Recursos Humanos já terá cumprido grande parte de sua missão em reter os bons profissionais e atrair bons profissionais do mercado”, diz Dias.

 

É ai que entra a criatividade do prestador de serviço de alimentação, segundo Alessandra Oldembergas, gerente de marketing da Apetit Serviços de Alimentação, pois “além do sabor e qualidade do alimento, tem que proporcionar aos usuários experiências diferenciadas, como por exemplo pratos personalizados, alimentação voltada ao pessoal fitness, palestras sobre alimentação saudável, um ambiente com ar contemporâneo”. A organização espera crescer 14% em 2017, focando no agronegócio.

 

De maneira geral, as projeções das empresas do segmento são positivas. Margarete Gomes Antunes, diretora da Tempero Certo, diz: “Diante de um mercado recessivo temos que nos reinventar, e é o que estamos fazendo. O projeto de expansão da Tempero Certo continua a todo vapor, o setor comercial permanece em busca de novas oportunidades; estamos ampliando nossa gama de produtos a fim de conquistar ainda mais nossos clientes ativos e futuros clientes em potencial”.

 

Já Dâmaris Castelo de Luca, diretora de Novos Negócios da LC Restaurantes, cita projeção de crescimento na ordem dos 20%, “como vem sendo em anos anteriores”. Ela afirma: “Temos muito espaço de mercado para aqueles clientes que buscam uma empresa de médio/grande porte, bastante estruturada e consolidada, mas que ainda consegue atender seus clientes de forma personalizada, com agilidade e pouco engessada”.

 

Outra companhia que acredita em crescimento de dois dígitos é a ValeCard. O presidente José Geraldo Ortigosa diz: “Estamos projetando crescimento de 27% no faturamento, com foco em diversificação dos negócios em 2017. Ainda não podemos dar detalhes, mas podemos dizer que vamos investir em novos produtos, empresas e parcerias para inovar na área de benefícios”.

 

Fonte: http://profissionalenegocios.com.br/ainda-mais-estrategicos/